Sexualidades em sala de aula; discurso, desejo e
teoria Queer.
Luiz Paulo Moita Lopes (UFRJ)
Discursos sobre sexualidades: Alunos, professores e
políticas públicas.
Mesmo que o tema das sexualidades
seja cada vez mais debatido fora da escola (na mídia, por exemplo), essa
questão geralmente, ainda é um tabu em sala de aula. Os professores definem a
sexualidade como importante somente na vida privada, anulando assim as percepções
e conseqüências sócio-políticos e culturais, entendendo somente como um
problema individual. Para eles os corpos na escola não se desejam. Em um artigo
ousado e pioneiro sobre erotismo e pratica pedagógica, Bell Hooks (1994) nos
alerta para como fomos ensinados a ignorar a questão da sexualidade na educação.
Como se os alunos na sala de aula não sentissem desejos, não pensassem em sexo,
como se eles fossem treinados para separar mente e corpo ao adentrar o recinto escolar.
Não surpreende que os livros didáticos e as propostas curriculares tradicionalmente
também funcionam nessa visão. O mesmo se fala sobre gênero e raças, e também em
relação ao professores, que também são vistos como pessoas que não sentem
desejos sexuais. Mas é claro que essa questão de esquecer o corpo naturaliza
ideais corpóreos de raça como branquitude,de gênero como masculinidade e de
sexualidade como heterossexualidade. Porem, isso não quer dizer que essa questão
não esta nas escolas, hoje em dia a escola é um dos principais lugares,onde
formam as identidades sociais de forma generificada,sexualizada e racializada.
Sendo porem cada dia mais natural vermos discursos sobre as diferenças, a mídia
e a internet nos traz essas diferenças para dentro de casa com movimentos
sociais,tais como feministas,antirracistas e gays,lésbicas,bissexuais,transexuais.
E assim a escola também começa aos poucos a fazer discursos ligados a esse
tema. Pois no dia a dia temos que lidar com a sexualidade na televisão, programas
que mostram homossexuais, bissexuais etc. Reportagens que mostram a luta por
conseguirem direitos iguais, como exemplo: casamentos entre pessoas do mesmo sexo,
adoção de filhos etc. Alguns sociólogos descrevem essa questão como quebra de tradição
social,o que era somente visto entre quatro paredes,hoje avançou para a vida publica,adentraram
a sala de visitas,pelo menos pela tela da TV,levando nos a um processo de reflexão
sobre quem somos e a possibilidade de construção de nossas vidas em outras
bases.Tarefas feitas em escolas,muitas vezes comprovam que cada vez as crianças
tem acesso mais cedo sobre a questão da sexualidade.foram feitos trabalhos com
crianças da 5 serie em que mostraram que já tinham muitas informações sobre o
assunto.ex: motéis,dor/prazer,posições sexuais etc.embora não tenham aprendido
isto na escola,eles mostram que aprendem com a TV e internet. Mais ainda
existem aquelas famílias tradicionais,onde os pais tem o conceito machista e não
aceita que seus filhos tenham acesso a este tipo de informação,por este
motivo,os professores devem saber como passar estas informações em sala de
aula, Pelo fato de muitos alunos terem a visão tradicional que vem dos
pais,ainda existem muito preconceito com o homossexualismo em sala de aula,e
isso torna complicado para os professores abordarem o assunto na sala.Porem
eles devem estar preparados , ai paramos para pensar como tem sido a formação
de professores,como as universidades tem os preparados para a questão de vida
social. No entanto,as políticas publicas no campo da educação têm mais
recentemente,chamado a atenção para a sexualidade,como um traço constitutivo de
quem somos.nota-se uma preocupação ,que indo alem das tradicionais explicações
dos chamados fatos da vida,tratando de aspectos relevantes da reprodução e sexo
seguro.focaliza sexualidade como procura por felicidade(sexual) e na expressão
de desejo/amor um pelo outro.Por causa do seu trabalho,os professores estão na
linha de frente dos embates sociais e culturais e não podem esperar que as
mudanças sejam efetivadas políticas para implementar em sua pratica.
Uma visão lógica monocultural e da lógica
multi/intercultural.
A lógica monocultural se associa a
um modo de explicação de vida social voltada para mesmidade.(somos todos
iguais,ou seja,somos guiados por significados homogêneos que produzem uma única
interpretação). Por outro lado, a lógica multicultural vai à direção da
heterogeneizacao e a diferença. A ótica multi/intercultural,por outro lado,
baseia-se na compreensão de que somos seres do discurso e de que como tais
somos constituídos pelos significados diversificados em que circulamos(somos
seres da diferença e não do significado único). E principalmente mostra como
esses significados coexistem dentro de nos mesmos, muitas vezes de forma contraditória
e cambiante. Os atravessamentos culturais dentro de nos mesmos, e é neste sentido,
que nos somos a diferença e não os outros.somos seres que podem atravessar as
fronteiras discursivo-culturais da sexualidade e se familiarizar com outros
discursos sobre quem podemos ser sexualmente.
Uma visão Queer das sexualidades.
A teoria queer chama mais atenção
pelo seu caráter problematizador e questionador de qual quer sentido da verdade
em relação a sexualidade. Queer é uma palavra inglesa porem tem sido utilizado
em português pela ausência de uma equivalente nessa língua que tenha esse
sentido. Alem de ser uma palavra que significa estranho, inesperado e não
natural,queer também é uma forma antiga de se referir a homossexuais de forma
ofensiva.
Porem esse termo foi re-apropriado, deixando
de ser insulto e passando a nomear abordagens que tentam explicar as
sexualidades como arena de recusa a naturalização e normalidade tanto no que
diz a respeito a obrigação de ser heterossexual como também ao ideal de uma
identidade homossexual homogênea,estável,como destino sexual,dos quais não se
podem escapar,como querem tradicionalmente muitas das posições essencialistas
dos movimentos GLBTS. É claro que entendo a importância da historia, já
mencionada aos movimentos que luta pela defesa de formas alternativas de vida
sexual;principalmente pelas dificuldades em que eles encontram no dia a dia. Contudo,
desejo encaminhar como sendo mais política a compreensão do desejo sexual,independente
de sua escolha. A abordagem Queer que desestabiliza a posição privilegiada da
heteronormatividade,a qual é dada ao direito de tolerar outras sexualidades. Possibilita
pensar de modo diferente,usando uma outra lógica e assim torna possível escapar
dos pensamentos fechados,das tradições e das compreensões já conhecidas sobre a
sexualidade. A posição queer nos implica compreender que os objetos de desejo
podem mudar durante a vida. Tem portanto como projeto a quebra da chamada
matriz heterossexual por meio da qual o desejo tem sido avaliado,justificado e
legitimado.
Potencias das teorizacoes queer para a educação.
A teoria Queer pode iluminar nosso
trabalho em educação quando o assunto é os problemas causados por visões
normalizadoras da sexualidade,oferecendo uma alternativa de compreensão dos
desafios desestabilizadores das praticas sociais que vivemos,dos discursos
sobre sexualidade que os alunos fazem circular em sala de aula.dos discursos
dos professores que não legitimam tópicos sobre sexualidade.Ao constituir uma
possibilidade de compreender as sexualidades que esta alem das políticas de
diferença,que preconizam a tolerância e deixam implícita a norma,ajuda a
diminuir a ignorância existente entre alunos e professores,tanto sobre a homossexualidade,como
sobre a heterossexualidade. A posição Queer não se qualifica por uma atitude
defensiva em relação a sexualidade x ou y.
Trazer para sala de aula as próprias
praticas sociais que tematizam a sexualidade das quais os alunos participam
como espectadores da mídia e como participante da vida escolar, pode ser um
modo de facilitar a compreensão da natureza fluida e fabricada das
sexualidades. Há uma motivação ética para compartilhar tal teoria, uma vez que
implica ganhos dessa natureza. Que a escola seja um lugar de recriar a vida social,
de compreender a necessidade de não separar cognição e corpo, de se livrar de
discursos binários aprisionadores, de se questionar incansavelmente e de se
preocupar com a justiça social e ética.
Taís Regina Nascimento Maciel 6814007161